quinta-feira, 30 de novembro de 2017

A diversidade na prática pedagógica

Ser professor não é uma tarefa nada fácil. Temos de lidar com a diversidade de 20, as vezes 30 "crianças' de uma única vez. Creio que na Educação Infantil isto seja mais difícil ainda, pois a personalidade deles ainda está sendo formada, assim sendo, é fundamental que seja incluído entre as aprendizagens a diversidade cultural que existe em nosso país. 
Segundo Genro e Caregnato (Pag 4): 
"A escola e seus profissionais têm o compromisso ético de colocar em debate as diferenças, os assuntos e as abordagens contemporâneas, tendo em vista o fato de trabalharem com a formação do indivíduo para o convívio social. Além disso, a escola indica, em tese, a possibilidade de mobilidade social. Não se convive razoavelmente em sociedade nem se avança de forma digna no lugar social que se ocupa se não houver fortalecimento das relações sociais democráticas, que valorizem as pessoas e grupos sociais na sua diversidade."
 Precisamos desde muito cedo, promover diálogos com os alunos sobre a diversidade cultural que vivemos, pois só assim teremos uma sociedade livre de preconceitos e ciente de onde veio.

A afetividade pode asfixiar o conhecimento, mas pode também fortalecê-lo

O texto de Edgar Morin (2002): As cegueiras do Conhecimento:  Erro e Ilusão, nos faz pensar muito sobre o que é o conhecimento e a racionalidade. 
Segundo o autor:
"Poder-se-ia crer na possibilidade de eliminar o risco de erro, recalcando toda a afetividade. De fato, o sentimento, a raiva, o amor e a amizade podem-nos cegar. Mas é preciso dizer que já no mundo mamífero e, sobretudo, no mundo humano, o desenvolvimento da inteligência é inseparável do mundo da afetividade, isto é, da curiosidade, da paixão, que por sua vez , são a mola da pesquisa filosófica ou científica. A afetividade pode asfixiar o conhecimento, mas pode também fortalecê-lo."
 Como professores, temos que ter a afetividade como aliada, principalmente na Educação Infantil, onde as crianças passam mais tempo na escola do que com os pais. Mas precisamos mostrar para a criança não só que o amamos, mas porque o amamos queremos sempre o melhor para ele. 
Certa vez ouvi uma mãe dizer: -Mas é tão difícil dizer não para ele profª! No mesmo momento respondi para ela, mas é por você amar o seu filho que é preciso dizer não.
Assim devemos também separar a afetividade da racionalidade, pois crianças precisam de limites, de regras, precisam saber diferenciar o certo do errado, e cabe tanto aos pais quanto a nós professores fazermos está diferenciação.

segunda-feira, 27 de novembro de 2017

Estádios e não Estágios de Desenvolvimento Cognitivo

Sempre que me deparava com este termo: Estádios de Desenvolvimento Cognitivo, ficava pensando, mas tem algo de errado aí, o correto não seroa Estágios?
Ao começar a ler o texto: Estádios do Desenvolvimento, me deparei com a seguinte explicação:
"A palavra “estágio” denota uma experiência à qual nos submetemos para atingir algum patamar de aprendizagem que não temos até o momento. Acontece que a criança que se encontra num determinado estádio de desenvolvimento não está minimamente preocupada com o estádio seguinte. Não se trata, pois de estágio, mas de estádio (stadium, do latim, “designa uma unidade de comprimento (600 pés) e por extensão, um terreno cuja dimensão foi especialmente adaptada aos esportes” [http://tecfa.unige.])."
Os autores Marques e Becker explicam claramente a expressão. e como num piscar de olhos, pude perceber a diferença não só entre os termos, mas entre o desenvolvimento de nós adultos e das crianças.
Enquanto as crianças se desenvolvem sem intenção de progredir para o próximo estádio, nós adultos estamos sempre em busca do que virá depois, por vezes até esquecendo de viver o agora. Quando não se está trabalhando, procurá-se um emprego para evoluir, se não possui uma casa, trabalhamos para conquistá-la, por vezes quando conseguimos queremos sempre mais... Muitas vezes não nos damos conta de quanto tempo perdemos buscando o melhor, mas será que o melhor não está nesta busca?
Acredito que sim, e temos que dar mais valor para o hoje, pois o ontem já passou e o amanhã, será que teremos condições de vivê-lo?
Vamos buscar nossa essência de criança, vivendo o hoje, sem preocupações com o que está por vir.

Trabalhando como investigadoras

Fazer o trabalho que envolvia o método piagetiano clinico, foi deveras difícil, pois ter que testar a criança sem poder auxiliá-la me causou certa agomia.
Segundo Piaget, Citado por Becker (Pag. 3):
"De acordo com Piaget (1926, p.11), duas qualidades são fundamentais ao bom experimentador “saber observar, ou seja, deixar a criança falar, não desviar nada, não esgotar nada e, ao mesmo tempo, saber buscar algo de preciso, ter a cada instante uma hipótese de trabalho, uma teoria, verdadeira ou falsa, para controlar”.
Como professoras, nosso instinto é auxiliar a criança a chegar até o conhecimento. Ter que testá-la sem poder ajudá-la, foi um tanto angustiante. Sabíamos que a menina tinha a capacidade a ser testada, mas talvez por timidez ou pela presença de uma pessoa estranha (no caso eu), ficou nervosa e se confundiu ao dar a resposta de uma das perguntas. 
Com este teste, pude concluir que nasci mesmo para ser professora, e pesquisadora também, mas junto com os alunos, guiando os pequenos no universo do conhecimento.

domingo, 26 de novembro de 2017

E quando não sabemos qual é a necessidade de um aluno?

Estamos no final do ano letivo, hoje acabei de fazer meus pareceres descritivos, e me peguei pensando em cada aluno. Teve alguns que evoluíram mais, teve outros que evoluíram menos, e aqueles que não evoluíram praticamente nada...
Sim existem alunos que frequentam os 200 dias letivos sem faltar quase nenhum dia, e ainda assim não evoluem nada...
Sempre procuro conversar com os pais no decorrer do ano letivo, sobre todos os aspectos de seus filhos, mas teve um em especial que eu não conseguia conversar com os pais de jeito nenhum, pois o menino vai e volta de van para a escola. Na entrega do parecer do primeiro semestre, conheci a mãe: uma mulher de em média 25 anos, que usava óculos com uma lente bem grossa. Quando vi a mãe, logo me veio na cabeça que o menino também podia ter alguma dificuldade na visão. Conversei com ela, disse que ele não estava conseguindo acompanhar a turma, mas notei que ela não me deu muita atenção. Semanas depois o menino continuava na mesma, quando eu colocava a atividade na sua frente, ele ficava olhando para todos os lados quieto e não atinava a pegar o lápis e fazer o trabalho. Então conversei com a orientadora educacional e pedi para que ela chamasse os pais dele para uma conversa, pois eu acreditava que o menino podia ter algum problema de visão.
Na conversa com os pais a mãe me contou que descobriu o seu problema de visão aos 10 anos, então pedi para que ela procurasse uma ajuda para o filho. Mas infelizmente nossa conversa não teve o efeito esperado, além de não procurar um médico para o filho, quando comecei a mandar os trabalhos para ele fazer em casa, pois na escola não tinha jeito nem de pegar o lápis na mão, os mesmos não voltavam mais.
E assim como tive grandes vitórias, tive também derrotas, pois a educação não depende apenas de nós professores. A educação deve ser um processo contínuo com a ajuda dos pais, buscando sempre o melhor para a criança. Infelizmente alguns pais não admitem que seus filhos possam sim ter necessidades diferenciadas e infelizmente isto atrasa muito o nosso trabalho como professores.

Pessoas com necessidades especiais Sim Deficientes incapazes Não

Durante a nossa última aula da interdisciplina Educação para Pessoas com Necessidades Especiais, assistimos alguns vídeos que me fizeram pensar em como tratamos estas pessoas.
Muitas vezes com a intenção de ajudar, já  entramos em ação para auxiliar as pessoas com necessidades especiais, como se elas não pudessem fazer aquelas ações sozinhas.
Me chamou muito a atenção um vídeo em que a palestrante conta que certa vez estava em uma escola e foi perguntada de quando iniciaria a palestra sobre motivação. E ela respondeu que a palestra dela não era sobre motivação e as pessoas ficaram apavoradas, uma vez que sempre viam pessoas com necessidades especiais como a dela (paraplégica) dando discursos sobre como faziam coisas fantásticas, mesmo sem os braços ou as pernas. Então passou um filme na sua mente sobre como ela foi tratada desde a infância, onde qualquer coisa que conseguia fazer era tratado como algo extraordinário.
Mas ao meu ver não era assim que ela gostaria de ser tratada... Ela gostaria de ser tratada como uma pessoa normal que possui sim certas limitações, mas quem não tem limitações não é mesmo?
Meu aluno com laudo, por ser criança sempre se contentou com o "coitadismo". Até eu assumir a turma e tratar ele como todos os outros.
Teve uma vez que ele estava muito agitado, e estava incomodando muito os demais colegas, então coloquei ele sentado ao meu lado. Na hora ele ficou muito bravo, chorou e reclamou bastante dizendo que não gostava mais de mim.
No dia seguinte para a minha surpresa, aparaceu a avó dele, que o cria, querendo saber o que tinha acontecido que o neto dela havia chegado em casa muito chateado comigo, e eu respondi: eu tratei ele como trato todos os colegas, ele estava muito agitado e coloquei perto de mim para se acalmar, como faço com todos os alunos que precisam. No mesmo momento ela quis me contrariar dizendo que eu precisava entender que ele era diferente. Então respondi para ela: Sim ele é diferente e os outros 22 colegas dele também são. Cada um exige de mim como professora uma qualidade diferente, e é como eu trabalho. Neste momento a avó encheu os olhos de lágrimas, pois percebeu, que pela primeira vez o menino estava sendo tratado como os demais colegas "normais", me deu um abraço e me agradeceu, pois estava notando que o seu neto estava amadurecendo bem mais depois que eu assumi a turma.
Chegando ao final do ano letivo, considero este aluno, uma das minhas grandes vitórias, pois além de ter melhorado o aspecto comportamental, está criança com todas as suas dificuldades, muitas vezes se sobressai aos seus colegas, e tem a cada dia acreditado mais em si mesmo, deixando o coitadismo de lado.

Como Crocodilos e Avestruzes...

Infelizmente vivemos num mundo que anuncia a diversidade em propagandas, mas quando a enfrentamos de frente os Pré Conceitos, falam mais alto.  Quando assumi a minha turma da tarde, todos me falavam: “pede uma auxiliar por que o aluno com laudo precisa”, “Tu não vai dar conta sozinha”, “Coitadinho ele precisa de uma pessoa só para ele”.  Confesso que assumi a turma com medo de todos estes “crocodilos”, mas a minha primeira ação foi tratar ele como tratava todos os outros colegas, e hoje eu posso dizer que consegui. Consegui descobrir uma criança que tem sim dificuldade na fala (troca alguns fonemas), tem mais dificuldade para se concentrar em algumas atividades, pois quando a atividade não chama a atenção dele e dos colegas, o trabalho não rende, mas quando eu entro na realidade, na imaginação deles, utilizando o lúdico, o trabalho flui, e o menino que era taxado de coitadinho, se sobrepõe aos seus colegas.
A autora do texto Como crocodilos e avestruzes, nos trás a deficiência como um Fenômeno Global, que é dividida em dois subfenômenos: A deficiência Primária (deficiência e incapacidade) e a Deficiência Secundária (desvantagem). Os dois subfênomenos estão ligados entre si, pois através da deficiência e incapacidade, se dá a desvantagem que o portador da deficiência possui. Acredito que como Educadores, temos o dever de dar condições iguais para todos os alunos, não importando cor, raça ou deficiência. No caso do meu aluno, o grau de deficiência dele não é tão alto. A inteligência dele é muito maior do que a sua incapacidade. Para ele evoluir, faltava um profissional que acreditasse nele, e foi o que eu fiz.
Contrapondo isto, vejo uma menina altista, que está em outra turma pelo turno da manhã, mas nem a professora nem a mãe ainda conseguiram achar um método para incluí-la em sala de aula. Quando converso com a colega que trabalha com a menina, ela apenas diz que a mãe quer que a menina seja incluída, mas a menina ainda não conseguiu se integrar na escola, não demonstra interesse por nada, apenas grita e chora quando está entre os colegas, pois as atividades não chamam a sua atenção. Esta colega trabalha de forma bem tradicional, e se preocupa bastante com os conteúdos a serem trabalhados. Acredito que isto possa prejudicar sim a menina, pois somos nós como escola que temos que nos modificar a realidade dela e não ela a nossa.
Quando a menina altista está na escola, vejo muito ela passeando pelos corredores com a professora dela, esse é o mecanismo de defesa que a professora titular da turma achou para conseguir lecionar com os outros alunos. Particularmente, eu sou contra disposição de mesas “enfileiradas uma atrás da outra”, mas algumas colegas ainda utilizam deste recurso, para deixar os alunos mais agitados no fundo da sala, assim não interagem com os demais.
Como já citei anteriormente, acredito que a escola tem que se adaptar as necessidades das pessoas com deficiências, ainda mais na Educação Infantil, onde a interação com o outro é o “carro chefe” da aprendizagem.

Não podemos dar as costas ou simplesmente por que o aluno é agitado, colocar ele no fundo da sala de aula e fazer de conta que ele não existe. Gosto muito de trabalhar com o lúdico, e a disposição das mesas em formato de “U”, pois assim posso circular entre todos e auxiliar um por vez. Trabalhar com as crianças em grupo também é maravilhoso, pois a troca de conhecimentos e vivências deles é fundamental para a aprendizagem.

sábado, 18 de novembro de 2017

Trabalhando com alunos Laudados e Não-Laudados

Fazendo as atividades da Interdisciplina de Educação para Pessoas com Necessidades Especiais, me peguei pensando sobre cada um dos meus alunos... Cada um é diferente, cada um é especial, cada um tem uma necessidade especial, seja ela cognitiva, afetiva ou física. das minhas duas turmas de Pré A, tenho 42 alunos frequentes: São 42 seres com as suas peculiaridades.
Segundo a  Nº 04 / 2014 / MEC / SECADI / DPEE, que faz cair a exigência de um laudo médico para incluir a criança com dificuldades especias:
"A inclusão de pessoas com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação em escolas comuns de ensino regular ampara-se na Constituição Federal/88 que define em seu artigo 205 “a educação como direito de todos, dever do Estado e da família, com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”, garantindo, no art. 208, o direito ao “atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência”. Ainda em seu artigo 209, a Constituição Federal estabelece que: “O ensino é livre à iniciativa privada, atendidas as seguintes condições: I - cumprimento das normas gerais da educação nacional; II - autorização e avaliação de qualidade pelo Poder Público”.
Acredito que esta nota tenha sido criada para evitar a discriminação de alunos com alguma deficiência. Mas e como podemos dar uma assistência adequada sem saber exatamente qual a necessidade da criança?
Nestes 42 alunos, tenho apenas 1 que possui laudo, mas confesso que por muitas vezes vejo outros colegas com necessidades bem mais sérias que a dele, que não recebem nenhuma assistência especializada (atendimento com educador especial) pois não possuem LAUDO.
São crianças que por não "incomodarem" com seus comportamentos, não desenvolvem-se cognitivamente da maneira adequada, assim sendo não foram encaminhados para atendimento especial desde que entraram na escola. Tentei encaminhá-lo para o atendimento, mas não obtive sucesso, pois agora o município que eu trabalho só atendem as crianças que possuem laudos, e cabe aos pais procurarem médicos especializados, que por sua vez não procuram atendimento, pois o aluno vai progredir de ano de qualquer jeito.

quinta-feira, 16 de novembro de 2017

À Sombra desta Mangueira: Quebrando os Préconceitos com a Filosofia

Confesso que demorei muito a começar as atividades neste semestre. Trabalhar 40 horas, dar conta da casa e da faculdade não é fácil, mas na verdade eu tinha um certo "pré-conceito", principalmente com a interdisciplina de Filosofia, pois há muitos anos atrás quando fiz um semestre de pedagogia em outra faculdade, o professor de filosofia me traumatizou... Mas quando comecei a fazer as atividades da interdisciplina, percebi que a interdisciplina não era nem um pouco parecida com o que eu tinha estudado em outra faculdade.
Estudando o Texto À sombra desta Mangueira, juntamente com a professora Larissa, me dei por conta: "Porquê não comecei a fazer as atividades antes???"
Segundo Paulo Freire (2000, pag 75):
"Para que a finitude, que implica processo, reclame educação, é preciso que o ser nela envolvido se torne consciente. A consciência do inacabamento torna o ser educável. O inacabamento sem a consciência dele engendra o adestramento e o cultivo. Animais são educados, plantas são cultivadas, homens e mulheres se educam."
O grande mestre nos faz pensar o porquê que buscamos o conhecimento, e chegamos juntos à conclusão de que buscamos o conhecimento por que temos a consciência do finito, ou seja consciência da morte.
Outro trecho me chamou muito a atenção no texto também que é onde Freire fala sobre a curiosidade (2000, pag 76):
"Sem a curiosidade que nos torna seres em permanente disponibilidade à indagação, seres da pergunta - bem feita ou mal fundada, não importa - não haveria a atividade gnosiológica, expressão concreta da nossa possibilidade de conhecer."
Desde o primeiro semestre sempre me descrevi como uma pessoa curiosa, por vezes na vida achei que fosse um defeito, mas percebo junto com Freire que está é uma qualidade do ser humano. Assim como meus pequenos alunos, que me enchem de perguntas todos os dias, somos seres curiosos por natureza, e é graças a está curiosidade toda que a humanidade evoluiu. 
Agora me pego pensando, se eu não tivesse a curiosidade em aprender, de entrar de cabeça na Pedagogia da UFRGS, se tivesse desistido mesmo antes de entrar, ou pior se estivesse deixado a curiosidade de lado e não tivesse entrado de corpo e alma "À Sombra da Mangueira", o que teria sido de mim? Com certeza estaria parada no "trauma" que o outro professor colocou na minha cabeça.
Então fico pensando novamente na importância de termos bons professores que nos encantem com os conteúdos assim como a Professora Larissa, e também na importância de colocarmos isto em prática com os nossos pequenos, fazendo com que eles acreditem na suas capacidades e nunca podando as suas curiosidades.